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16/07/2011 - 00h10

Sabático proporciona aprimoramento profissional, mas pede preparo

JORDANA VIOTTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Rodrigo do Vale, 44, considerava-se no auge da carreira em 2005. Ocupava um cargo de liderança na Inglaterra e passaria a comandar uma das operações da empresa.

O rumo, no entanto, foi outro. Ele e a mulher decidiram que aquele era o momento de realizar o sonho de velejar pelo mundo com os filhos de 2,5 e 6,5 anos.

Eles se preparavam havia oito anos em cursos sobre vida a bordo, com pesquisas sobre "homeschooling" (modalidade em que os pais se encarregam da educação dos filhos) e fazendo muita economia.

Arquivo pessoal
Veja galeria de fotos de Rodrigo do Vale e outros profissionais que fizeram sabático
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"Não só para fazer poupança mas para aprender a viver de maneira simples", diz ele, que contaria com orçamento de R$ 1.500 mensais nos três anos em que passaria embarcado.

Pouco conhecido no Brasil
A carreira sofreu - na volta, Vale assumiu um posto abaixo do que tinha na Inglaterra e hoje está numa posição semelhante. O balanço, no entanto, foi positivo. "Eu poderia estar em um cargo mais alto, mas não queria deixar para fazer isso com 60 anos, quando meus filhos já não estivessem em casa", comenta.

A pausa na carreira, conhecida como "período sabático", ainda não é muito difundida no Brasil.

"Coloquei [o sabático] no currículo e tive que explicar a alguns entrevistadores", comenta a advogada Ana Sousa, 28, que tirou um sabático em 2008.

A executiva Danielle Craievich concorda. "O mercado de trabalho no Brasil não sabe lidar com profissionais experientes que resolvem adotar a prática", comenta ela, que visitou 25 países em oito meses durante 2009 com o marido.
Na sua opinião, em outros lugares do mundo a prática é mais comum. Hoje, ela e o marido vivem na Austrália, país em que empresas incentivam o sabático.

Benefícios e organização
Ainda assim, todos entrevistados recomendam o sabático. A prática pode ser favorável para repensar os rumos profissionais, ficar com a família, fazer cursos ou viajar.

"É um tempo que traz benefícios se tiver um propósito e se for planejado", pondera a coach Ivani Manzzo.

A organização não é só material - é preciso preparar a mente também. "Há períodos muito grandes de solidão", comenta Flávia Lippi, 43.

Apresentadora do programa Repórter Eco (TV Cultura) durante oito anos, Flávia usou seu sabático, em 2008, para impulsionar o redirecionamento que já planejava para a carreira. Fez cursos no Brasil e no exterior e hoje atua com presta consultoria para profissionais e empresas em 'coaching' e 'mentoring'.

"Abri mão de uma posição privilegiada, mas tenho tranquilidade de não precisar estar sempre bonita e arrumada, ter um carro bacana, uma casa bacana", analisa.

Mais tranquilidade
As pressões do trabalho, do trânsito e do mercado também motivaram Luiz Daniel Salomon, 41, a tirar um tempo para si. Quando fez 40 anos, um checkup de rotina apontou um problema no coração. "Não era nada, mas serviu de alerta."

Aproveitando-se do patrimônio construído em 14 anos de atuação como executivo de multinacional, Salomon vai aproveitar o ano para pensar nos novos rumos.

Estuda algumas possibilidades, como abrir uma franquia. Mas está certo de que não quer voltar para a antiga vida. "Profissionalmente, já realizei o que queria, agora quero ter filhos, que foi algo que adiei pela carreira."

Para Maria Luíza Nascimento, 46, a pausa aos 41 para ter um filho foi essencial. Ela fazia tratamento para engravidar havia seis anos, sem sucesso. Dois meses depois de deixar a empresa, o teste deu positivo.

Quando o filho Pedro completou um mês e meio, ela recebeu propostas para voltar à ativa "num esquema mais tranquilo".

A volta
Quem decide tirar um período sabático precisa se preparar também para voltar ao mercado de trabalho. O engenheiro Fernando Salgado, 44, passou um mês e meio na casa dos pais, em período de readaptação.

A volta ao mercado foi rápida do que imaginava porque mantinha contato com os amigos e colegas pela internet e soube de uma proposta enquanto ainda estava na Ásia.

A maior adaptação foi em relação ao círculo de amizades. "Eu era um yuppie que queria ficar milionário aos 40 anos. Fui para a Índia, viajei de bicicleta e hoje dou valor a outras coisas", conta.

No trabalho, as relações também mudaram. "Hoje, não consigo mais tratar o negócio só de olho nos resultados. As pessoas são mais importantes."

Sabático

O que é
A palavra vem do hebraico. O ano sabático é o sétimo ano de um ciclo de colheitas, durante o qual a terra deve 'descansar'. No mercado de trabalho, o ano sabático (ou período sabático) é o tempo em que o profissional dá uma pausa em sua carreira para se dedicar a outra atividade (um curso, uma viagem, uma reavaliação de vida e de carreira).

Planejamento
De acordo com especialistas e com quem já tirou um período sabático, é preciso ter um propósito. Com isso em mente, parte-se para o planejamento financeiro, material e mental.

Finanças
O planejamento financeiro deve ser minucioso e realista. Também precisa levar em conta que, quando decidir voltar ao mercado, o profissional pode ficar alguns meses sem trabalhar.

A volta ao mercado
É importante pensar em como se apresentar ao mercado na volta. O sabático deve ser mencionado no currículo para não dar a impressão de inatividade ou desemprego.

Fontes: entrevistados

 

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