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31/07/2011 - 07h32

Ambiente ruim favorece abusos

PATRÍCIA BASILIO
DE SÃO PAULO

Problemas no ambiente organizacional são os principais motivadores de casos de assédio moral nas empresas, segundo especialistas consultados pela Folha.

Cultura interna que não prioriza o respeito na equipe dá espaço a conflitos -isolados ou coletivos- entre funcionários, explica Margarida Barreto, coordenadora da Rede Nacional de Combate ao Assédio Moral no Trabalho.

Segundo a especialista, a maioria das empresas omite casos de humilhação e é cúmplice do problema. "Se o profissional tem deveres a cumprir com a companhia, ela [empresa] também tem de ter com ele", destaca Barreto, que é médica do trabalho.

Em fevereiro deste ano, a rede supermercadista Walmart foi obrigada a pagar indenização de R$ 140 mil para um ex-gestor que diz ter sido obrigado a rebolar e cantar nas reuniões diárias em um escritório no Brasil.

Em nota, a empresa diz que "o grito de guerra da companhia tem como objetivo descontrair o ambiente de trabalho antes de reuniões e integrar as equipes" e que a participação não era obrigatória.

Ser humilhado em frente a colegas levou o auxiliar de telecomunicações Cláudio Lima, 26, a entrar com ação na Justiça contra a empresa de informática onde atuava.

Lima diz ter sido ofendido várias vezes por gestores. A constante "exposição ao ridículo", conta, fez com que ele tivesse crise de ansiedade.

"Não conseguia me defender e sentia que ninguém podia fazer nada", diz ele, que foi demitido meses depois de voltar de licença médica.

Para Luciana Santucci, advogada especialista em assédio moral pela Universidade Samford, nos EUA, com a maior reclamação dos trabalhadores, "as empresas vão prestar atenção ao ambiente organizacional da mesma forma que ao faturamento".

Emerson Casali, gerente de relações do trabalho da CNI (Confederação Nacional da Indústria), ressalva que o assédio moral "não pode ser confundido com mágoa e dissabor" do funcionário.

SETORES EM ALTA

Na contramão dos altos índices de assédio moral, há setores em que esse problema é menos frequente, como o de engenharia e o de tecnologia da informação.

O motivo, segundo os sindicatos das categorias, é a disputa do mercado por mão de obra qualificada. "Se um profissional não está satisfeito com a empresa, pode ir para a concorrente", exemplifica Murilo Pinheiro, presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo.

Segundo ele, faz dois anos que a entidade não recebe reclamações por assédio moral. "O engenheiro raramente passa indiferente por uma situação dessa porque sabe que tem o amparo do mercado", explica Pinheiro.

No setor de tecnologia da informação, a situação é semelhante no caso de profissionais com alta qualificação, como cientistas da computação e analistas de sistemas.

"Profissionais de suporte e técnicos ainda são alvo da forte cobrança por resultados", pondera Antônio Neto, presidente do Sindpd (Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados do Estado de São Paulo).

O engenheiro de software Rafael Roquetto, 25, diz já ter tido problemas "sérios" com um empregador. Entre discordâncias por e-mail e no escritório, pediu demissão e foi para a empresa concorrente.

"Quero trabalhar em um lugar onde me sinta bem", argumenta ele, que atualmente atua em uma companhia de tecnologia na Suécia.

 

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