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16/10/2011 - 07h15

Ambiente e reconhecimento valem mais que salário para trabalhadores

CAMILA MENDONÇA
DE SÃO PAULO

Nos últimos dois anos, o analista de sistemas Fernando Manoel dos Santos Catarino, 29, recebeu propostas cuja remuneração era o dobro da que ele recebe atualmente na Provider IT, de tecnologia. Rejeitou-as.

"Se o projeto é ruim e desgastante, não vale a pena, por maior que seja o salário", diz.

A opção por ficar na empresa, conta o analista, deve-se ao ambiente. "Não existe fronteira entre a pessoa que executa e a que coordena, e é ótimo quando vejo minhas ideias se tornarem reais."

Ele não é o único a deixar a remuneração em segundo plano ao analisar ofertas de emprego. Os talentos avaliam fatores como clima e reconhecimento, dizem especialistas.

"A retenção está ligada ao quanto o profissional está engajado e ao quanto é valorizado", afirma Ricardo Fischmann, diretor comercial da doers, consultoria de gestão integrada de capital humano.

Karin Parodi, diretora-executiva da consultoria Career Center, explica que hoje os profissionais exigem cada vez mais reconhecimento.

"Eles querem desafio em um bom ambiente de convivência na empresa", define.

Cultivar clima saudável foi um dos objetivos da Bombril, da área de higiene e limpeza, ao criar sala de recreação em unidade de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), com mesas de sinuca, internet, TV e loja com produtos da marca. "A parte de recreação é um fator motivacional", avalia Kátia Valença, gerente de RH da empresa.

Leandro Madureira, 28, é líder de produção na Bombril e diz que utiliza a sala como forma de "reunir-se com os colegas e relaxar". A ação, afirma, conta pontos para continuar na companhia.

Rafael Andrade/Folhapress
Fernando Catarino recebeu oferta de emprego com salário maior, mas ficou na mesma empresa por causa do ambiente
Fernando Catarino recebeu oferta de emprego com salário maior, mas ficou na mesma empresa por causa do ambiente

Para especialistas, os profissionais querem se sentir importantes e enxergar significado no trabalho que realizam. "As empresas devem criar condições para o autodesenvolvimento [como incentivar a procura por cursos], porque os funcionários estão buscando novas experiências", afirma Fischmann.

REMUNERAÇÃO
A Nexxera concede bônus por tempo de casa e participação nos lucros. "Já cobrimos oferta para manter funcionário", conta Máximo Seleme, diretor de RH da empresa de engenharia de software.

Na System Marketing, de qualidade de dados, há participação nos lucros.

As companhias não têm nessas ações as únicas armas de retenção -nem poderiam.

"Quando o reconhecimento é só pelo salário, isso indica o fracasso da empresa ao elaborar política consistente", afirma Marco Túlio Zanini, especialista em RH da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Para Marcello Cuellar, "headhunter" da Michael Page, as companhias erram ao achar que motivam com ações de curto prazo, como elevar remuneração. É preciso, diz, verificar se o aumento terá efeito prolongado.

COMPORTAMENTO DO LÍDER
"As pessoas não pedem demissão das empresas, mas dos seus chefes", afirma Márcia Almström, diretora de RH da Manpower. Ela explica que o papel do líder pesa na decisão do profissional de ficar ou sair da companhia.

Foi o que ocorreu com a publicitária Renata Monteiro, 35, que teve de lidar com uma "chefe centralizadora". "Eu chorava todos os dias quando voltava para casa e mal conseguia dirigir." A gestora, diz, não finalizava nada do que lhe era repassado. "É frustrante ver seus projetos não indo pra frente." O "martírio" durou seis meses.

A socióloga C.M.A.C., 35, também saiu da empresa por problemas com a liderança, que, afirma, a sufocava. "Entrei animada e feliz, mas cheguei ao meu limite emocional", conta ela, que ficou oito meses na companhia.

 

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