Para fugir do robô, é preciso criatividade
FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO
As tarefas com mais chance de sobreviver à automatização são as que dependem de criatividade e de imaginação, dizem especialistas.
Para que os efeitos das novas tecnologias sejam minimizados na carreira, é preciso cultivar capacidade crítica, de julgamento e de interpretação, orienta o economista da USP (Universidade de São Paulo) Gilson Schwartz.
"Computador calcula, armazena e distribui muito bem, mas não pensa, não sente, não tem vontades", considera ele, que escreveu o livro "As Profissões do Futuro" (ed. Publifolha).
Letícia Moreira/Folhapress |
O urologista Anuar Mitre, 62, ao lado do robô cirúrgico, no Hospital Sírio-Libanes |
Schwartz também afirma que, para ser criativo, é preciso buscar aprendizado permanente. "Não é necessariamente [matricular-se em] um curso, mas cultivar-se."
O cirurgião-urologista do Hospital Sírio-Libanês Anuar Mitre, 62, especializou-se em cirurgias com robô. No Brasil, há três equipamentos como o que ele trabalha.
Para operar com o aparelho, ele usa controles em um espaço delimitado, e uma pinça robótica reproduz o movimento no paciente.
O aparelho permite fazer cirurgia em uma pessoa que está em outro continente. Ele diz que isso ainda não ocorre por questões legais, "mas é absolutamente possível."
Mitre afirma não acreditar que o robô possa fazer operações sozinho, pois "as variações anatômicas [entre pacientes] são muito grandes".
CAPITALISMO
"[As inovações tecnológicas] não param, e achar novas formas de produzir é um processo intrínseco ao capitalismo ", argumenta Renato Colistete, 49, professor de história econômica da USP.
Para ele, depois de uma mudança tecnológica, o nível de emprego não só volta ao normal, como aumenta.
EM RISCO
Entre 2003 e 2010, o número de técnicos em secretariado, taquígrafos e estenotipistas passou de 100,8 mil para 82 mil no Brasil, segundo a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho e Emprego.
A redução é mais dramática se forem considerados os postos de trabalho formais criados no país no período -houve aumento de 50%, chegando a mais de 44 milhões de empregados.
Maria Todorov, 40, vice-presidente do sindicato paulista da categoria, diz que, hoje, uma secretária atende a até seis executivos; no passado, era uma por gestor.
Às vezes, conta, a secretária ficava um dia datilografando uma carta. "O executivo mudava uma vírgula, e ela tinha que escrever de novo. Agora corrige-se tudo em um minuto", compara Todorov.
A ocupação de secretária não é a única na qual houve perda de profissionais.
O número de telefonistas também caiu. Em 2010, havia 89,6 mil profissionais no setor; em 2003 eram 93,8 mil -queda de 4,5% no período.
Para Clemente Ganz Lúcio, 53, diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a tecnologia é um dos fatores que explicam as reduções.
Segundo ele, cobradores de ônibus passam pelo mesmo processo atualmente.
REDUÇÃO CAMUFLADA
Mariangela Cifelli, 29, gerente-executiva da consultoria Page Personnel, avalia que, além da tecnologia, há outras mudanças no mercado que ajudam a explicar a diminuição relativa da quantidade de trabalhadores.
Algumas posições mudaram de formato, diz. "Empresas não contratam escriturários, que permaneciam na função durante anos; chamam um estagiário em início de carreira", avalia.
+ NOTÍCIAS SOBRE EMPREGOS
+ Livraria
- Livro traz poemas curtos em japonês, inglês e português
- Conheça o livro que inspirou o filme "O Bom Gigante Amigo"
- Violência doméstica é tema de romance de Lycia Barros
- Livro apresenta princípios do aiuverda, a medicina tradicional indiana
- Ganhe ingressos para assistir "Negócio das Arábias" na compra de livro
Publicidade
Publicidade
Publicidade