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12/06/2012 - 14h40

Nos anos 1950, dilema era dividir ou não quarto do casal

PAULO WERNECK
EDITOR DA "ILUSTRÍSSIMA"

Há mulheres que se agarram ao marido como carrapatos. O homem não gosta de arranjos domésticos e a mulher deve importuná-lo o menos possível com eles. Não faças todos os meses o papel de enferma, mas trata de passar por cima da menstruação.

Essas pérolas não são de minha lavra, mas do médico alemão Fritz Khan, cujos livros de orientação sexual e amorosa foram uma coqueluche no Brasil dos anos 1950 e 1960. Num país em que até o sexo marital era tratado como tabu, falar sobre sexo -ainda que abobrinhas- já era um avanço tremendo.

Era de lei: o brasileiro que estivesse prestes a contrair núpcias, como se dizia, ganhava de presente um dos catataus de Khan. Hoje eles sobram nos sebos e, aposto, nas estantes de seus pais ou avós.

Um deles, "Amor e Felicidade no Casamento", é dividido em itens de título elucidativo ("Como evitar o cônjuge inadequado", "Os problemas da moça feia"). O foco é a harmonia do casal, das "perturbações do mênstruo" à conversa sobre política e religião.

Khan lista os "homens com que a mulher não se deve casar", tipos como "o doente nervoso ou mental de família com tara hereditária", "o bebedor", "o moço infeliz", "o homem homossexual", "o masturbador" etc. Entre as "mulheres com que o homem não se deve casar", estão "a mulher que permaneceu infantil", "a caçadora de carreiras" e "a mulher de cultura muito superior à do homem".

O dr. Khan dá "instruções para a mulher": "Não peças que o homem tenha senso de família", "o amor do homem passa pelo estômago", "sua grande rival: a mãe dele", "em cada homem existe uma criança que quer brincar" e "deixa-o esbravejar" (!!!). Já o marido deve "reconhecer as fraquezas do sexo feminino" e "tomar em consideração o ciclo mensal" da mulher.

O dr. Khan discutia as polêmicas matrimoniais da época, como a opção da mulher por trabalhar fora de casa ou a moda de dormir em quartos separados. Sobre isso, Nelson Rodrigues afirmou que o segredo não estava nos quartos: "Nenhum amor resiste a um banheiro compartilhado".

É fácil rir, hoje, das obsessões médico-moralistas do dr. Khan. Difícil é identificar, nas listas de mais vendidos, revistas femininas e masculinas e nas mesinhas de cabeceira, os manuais moderninhos de hoje que trazem a idade das trevas de volta para a vida a dois.

Dois shoppings de São Paulo, neste dia dos namorados, oferecem não um, mais dois carros de presente ao casal sorteado. Dois! Ou seja, a questão já não é dormir em camas separadas ou não, mas buscar a harmonia do casal em carros separados. O dr. Fritz Khan, se estivesse aqui, iria ao delírio.

Fernando de Almeida
 

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