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12/08/2012 - 06h05

Apartamentos compactos despertam o interesse de construtoras e compradores

JULIANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No mês passado, o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, propôs um plano para a construção de microapartamentos com metragens que variam de 26 metros quadrados a 28 metros quadrados, com o objetivo de atender a uma demanda cada vez mais expressiva: de solteiros e casais sem filhos.

A prefeitura espera receber propostas de empreendimentos entre oito e dez andares, com 80 unidades. Caso dê certo, as autoridades planejam reduzir o tamanho mínimo dos imóveis de 37 m² --segundo lei de 1987-- para 26 m².

Simon Plestenjak/Folhapress
A arquiteta Juliana Neves, que mora em um apartamento de 43 m²
A arquiteta Juliana Neves, que mora em um apartamento de 43 m²

Pesquisa divulgada pelo Secovi (sindicato da habitação) na última semana aponta que imóveis menores vêm ganhando importância em São Paulo. Enquanto a venda de apartamentos de quatro dormitórios caiu 9,9% no primeiro semestre, a venda de unidades com dois quartos representou 52% do total.

"São Paulo está se aproximando de Nova York na falta de terrenos e na alta do preço dos imóveis", diz Claudio Bernardes, presidente do sindicato. "Não existe outra alternativa a não ser fazer uma cidade compacta, que caiba no bolso de quem quer morar nas regiões mais nobres."

Os empreendimentos compactos são moradias entre 24 m² e 40 m² dirigidas a um público que prioriza a localização e os atrativos do condomínio em detrimento do espaço interno.

No exterior, dá para encontrar 'casa cubo' e 'apartamento cápsula'

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Apartamento de um quarto também pode significar luxo

Morar em um cubículo pode fazer bem

"Existe uma demanda crescente por esse tipo de produto, principalmente em regiões bem servidas de transporte coletivo", afirma Luiz Paulo Pompéia, diretor de estudos especiais da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio). "O preço do imóvel precisa caber no bolso. Se os incorporadores fazem produtos na faixa de R$ 90 mil a R$ 130 mil, conseguem vender rapidamente."

"É um teste de paciência com o parceiro", diz a advogada Márcia Menezes, 32, sobre a sensação de dividir um apartamento de 32 m² no Alto de Pinheiros com o noivo. "Quando entro em uma loja, a preocupação dele não é com o quanto vou gastar, mas onde vou colocar as coisas novas." O casal já teve de guardar roupa de cama em um armário na cozinha.

INTEGRAR É PRECISO

Cozinha embaixo de escadas, terraço que vira área de serviço, móveis retráteis e camas escondidas são alguns dos truques usados por construtoras para vender microapartamentos em São Paulo.

Simon Plestenjak/Folhapress
Tatiana Criscione e Rafael Machado no apartamento de 36 m² onde moram, na Consolação
Tatiana Criscione e Rafael Machado no apartamento de 36 m² onde moram, na Consolação, em São Paulo

O espaço reduzido deixa de ser sinônimo de problema e ganha ares de versatilidade.

"Temos muita procura do público jovem, que ainda não acumulou tantas coisas ao longo da vida", afirma Rosane Ferreira, diretora de incorporação da Cyrela.

O professor Sérgio Domingos praticou o desapego livrando-se de mais de 200 livros ao se mudar de Araraquara para São Paulo. No interior, morava em um apartamento de 90 m². Na capital, passou para uma quitinete de 18 m².

Hoje divide um apartamento de 32 m² com a mulher e os dois gatos. "É complicado achar um apartamento maior com um preço justo e que seja perto do metrô e de lugares mais bem servidos de ônibus."

Ao se mudar de Recife para São Paulo, a arquiteta Juliana Neves, 31, abriu mão de um "latifúndio" de 75 m² para viver em um apartamento de 35 m². "Meu maior susto foi constatar como as lojas populares estão despreparadas. Como não achei uma mesa de jantar proporcional ao espaço, tenho uma de cozinha."

Juliana usou os truques que aprendeu na profissão. "Reparei que não deveria ter móveis muito altos, como armários até o teto, para não achatar mais o ambiente."

A organização fez com que a mudança do publicitário Cezar Coscelli, de um apartamento de 100 m² para outro de 29 m², não fosse tão difícil. "Morava com um amigo que era a bagunça em pessoa. Quando vim morar com minha mulher, a situação ficou melhor, mesmo em um apartamento pequeno", diz. Mas a mudança exigiu sacrifícios: livros, discos e violão foram deixados com o "roommate".

"Ter menos espaço ajuda a definir as prioridades e reduz o consumismo", diz a assistente de marketing Tatiana Criscione, 24, que mora com o namorado em um apartamento de 36 m².

PONTO DE APOIO

Apartamentos compactos não devem ser vistos como lares, e sim como "pontos de apoio", defende Mário Giangrande, diretor de incorporação da construtora BKO.

"A proposta não é espremer famílias nesses ambientes, mas dar opções a empresários que moram em outras cidades e passam alguns dias em São Paulo, por exemplo."

Simon Plestenjak/Folhapress
Os publicitários Cezar Coscelli e Leticia Soares no apartamento de 29 m² que dividem na Pompeia, em SP
Os publicitários Cezar Coscelli e Leticia Soares no apartamento de 29 m² que dividem na Pompeia, em São Paulo

É o caso do engenheiro Álvaro Lopes, 55. Ele mora com a família em Porto Alegre, mas mantém um apartamento de 30 m² no Brooklin. "Venho quase toda semana e era chato ter que arrumar um lugar para ficar, trazer mala. Hoje viajo com a carteira no bolso."

"Não existe mágica: morar em um ambiente de menos de 30 m² é sacrificante mesmo se tudo for bem planejado", diz a designer de interiores Fabianne Brandalise.

"Em São Paulo as pessoas têm expectativas maiores em relação ao lugar onde moram, querem que seja um local de convívio, de lazer", Luiz Felipe Carvalho, sócio-diretor da incorporadora Idea!Zarvos.

Para ele, imóveis de no mínimo 40 m² são um bom parâmetro de compacto para a realidade paulistana. "A cidade não tem escassez de espaço que justifique a existência de casas que são só dormitórios."

Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress
 

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