Despesa com fornecedor é alvo de briga
FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO
Aos 59 anos, Wagner Lanfred voltou a trabalhar como engenheiro, depois de uma iniciativa malsucedida com franquias. "Tenho que recomeçar do zero", conta ele, que tem dívida de R$ 700 mil da época como empresário.
Sílvio Bricarelo, 56, não sofreu tanto financeiramente, mas afirma guardar "muito desgosto" da experiência.
Lanfred e Bricarelo são ex-franqueados do restaurante Bon Grillê e reclamam de um ponto comum a muitos empresários do setor: o preço cobrado pela matéria-prima.
Pelo contrato, o franqueador tem a prerrogativa de determinar fornecedores. "[Um franqueado] não consegue forçar essa troca", afirma a advogada especializada em franquias Melitha Prado.
No Bon Grillê, explicam os ex-franqueados, os preços de itens com pouca diferença entre si, como carnes, eram cerca de 50% acima dos praticados no mercado. Segundo eles, esse fornecedor era o detentor do Bon Grillê, a Platinan Franquias.
O gerente de expansão da marca, Maurício Freire, afirma que hoje são quatro os fornecedores, mas que, no passado, havia apenas um. Ele acrescenta que a rede tinha um centro de processamento de alimentos. "Mas acredito que há dez anos isso não faz parte do grupo", diz.
Para evitar multa rescisória, Lanfred continuou à frente da franquia durante os cinco anos obrigatórios do contrato -em 2005, ele havia aberto duas unidades de uma vez. Elas foram fechadas em 2010. "Eu me culpo por não ter saído no segundo ano", afirma ele, que move processo contra o Grupo Platinan.
Bricarelo, hoje dono de nove franquias de alimentação, desfez-se do negócio. Recebeu notificação extrajudicial e teria de pagar R$ 400 mil por quebra de contrato. O processo corre na Justiça.
"Não se pode confiar no canto de sereia do franqueador. É preciso falar, principalmente, com os ex-franqueados", afirma Bricarelo.
Além de desentendimentos em relação ao fornecimento de matéria-prima, conflitos comuns são relativos à quebra de exclusividade do ponto e à frustração das expectativas de retorno.
Prado afirma que, nesses casos, o melhor é tentar passar a franquia para outro possível interessado. Se conseguirem um substituto, os franqueados estão desobrigados da multa rescisória.
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