País sofre redução de micro e pequenas exportadoras
PATRÍCIA BASILIO
DE SÃO PAULO
Crise financeira internacional, valorização do real ante o dólar e alta tributação. A somatória desses fatores resultou na queda de 2,7% no número de micro e pequenas empresas exportadoras em 2010 em relação ao ano anterior -elas passaram de 12.184 a 11.858. Entre médias e grandes, a redução foi de 0,1%.
Isso é o que mostra levantamento anual realizado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) a partir de dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e obtido com exclusividade pela Folha.
O montante exportado por micro e pequenas empresas, porém, cresceu 7,6% no mesmo período, chegando a US$ 2,027 bilhões em 2010. Em 2009, foi de US$ 1,883 bilhão.
Os resultados, embora aparentemente contraditórios, refletem a seleção natural das empresas, avalia Carlos Alberto dos Santos, diretor técnico do Sebrae. "Enquanto algumas saem do mercado, outras se desenvolvem", compara o especialista.
Pedro Silveira/Folhapress |
Irone Sampaio, na sede da Conap, em Belo Horizonte (MG) |
Uma das hipóteses de Santos para a redução de exportadoras de micro e pequeno portes é o foco no mercado interno para "aproveitar o crescimento da economia".
Com a valorização do real em 2010 e crise dos EUA e da Europa, mirar o consumidor brasileiro foi a estratégia de algumas empresas.
Pequenos negócios são os mais prejudicados nesse cenário por terem menos poder político e participação no comércio exterior, diz Samy Dana, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas. Esses empreendimentos, porém, "contornam problemas mais facilmente porque têm equipe enxuta".
Exportações estão presentes em 4 dos 20 anos de existência da Conap (Cooperativa Nacional de Apicultura), que comercializa derivados de mel. Entre os países de destino estão Bélgica, Coreia do Sul, EUA e Japão.
O desafio para manter a cooperativa sólida, segundo o presidente, Irone Sampaio, 62, é estar preparado para produzir em maior ou menor quantidade, de acordo com as oscilações econômicas. As exportações, contabiliza ele, correspondem a 90% do faturamento da cooperativa.
"Enquanto em alguns países da Europa a crise resultou na queda de pedidos, em outros [como o Japão], a gente teve de triplicar a produção", afirma o executivo.
MUDANÇAS
Há três anos, 30% do faturamento da Concrete Solutions, desenvolvedora de softwares, era proveniente de exportações para países como Alemanha, Irlanda e México. Desde o ano passado, contudo, esse índice fica em 10%.
Os motivos, segundo o presidente, Fernando De La Riva, foram a valorização do real em 2010 e a crise econômica da Europa, que tornaram os produtos inviáveis financeiramente no exterior.
Alexandre Rezende/Folhapress |
Fernando De La Riva, presidente da Concrete Solutions |
O fato de a empresa não reduzir os custos de produção dos softwares para competir por preço, frisa, foi um dos alicerces para superar a crise. "O diferencial do Brasil deve estar em produtos com alto valor agregado [feitos com tecnologia de ponta e mão de obra qualificada]", diz ele, que aposta nas vendas para a Arábia Saudita.
Para Edson Sadao, professor de empreendedorismo da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), enquanto países da Europa perdem espaço entre as pequenas empresas brasileiras, os asiáticos se tornam atrativos pelo crescimento econômico e populacional.
"O segredo para micro e pequenos exportadores a partir de agora é explorar países que não se sustentam com sua própria produção interna", recomenda Sadao.
A tendência apontada pelo professor já pôde ser vista em 2010. Pesquisa do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) mostra que, de 2009 a 2010, houve crescimento de 11,3% no total exportado por micro e pequenas empresas brasileiras para o bloco Ásia-Pacífico. Para a União Europeia, a alta foi de 8,7%.
Explorar o mercado asiático está nos planos a longo prazo da Icab Chocolates Artesanais, empresa familiar criada há 81 anos.
"Planejava vender os produtos no exterior neste ano, mas, por causa da oscilação cambial,decidi postergar [as negociações]", reforça o proprietário, Luigi Mufone, 31. A maior dificuldade, avalia, está em formar parceria com fornecedores. "Não temos poder de barganha."
Diogo Shiraiwa/Editoria de Arte/Folhapress | ||
COMÉRCIO EXTERIOR Participação de micro e pequenas empresas brasileiras em exportações |
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