Grávida e contratada
ANA MAGALHÃES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando a americana Marissa Mayer, 37, recebeu a proposta para ser diretora-executiva do Yahoo! e informou que estava grávida, seus entrevistadores não titubearam. Contrataram-na mesmo sabendo que em outubro ela terá de se afastar para ter seu primeiro filho.
Há razões para isso. Mayer formou-se em ciência da computação pela Universidade de Stanford, foi a primeira engenheira contratada pelo Google e, em 2008, a revista Fortune a nomeou uma das 50 mulheres mais poderosas do mundo.
"Marissa é uma pessoa especial, ela tem uma carreira de sucesso. Infelizmente, para pessoas 'comuns', a realidade é outra", avalia José Augusto Minarelli, presidente da Lens & Minarelli, empresa de recrutamento.
Alessandro Shinoda/Associated Press |
Izilda Capeletto, 53, foi contratada quando ainda estava grávida |
Para o especialista, a contratação de grávidas ainda é incipiente no Brasil. Em processos seletivos, diz ele, a empresa espera efetivar um profissional que esteja à disposição, e o afastamento de uma gestante impediria isso.
Em 1995, quando era o diretor de RH da Nestlé, Carlos Faccina contratou uma secretária grávida. "Nunca me arrependi, ela ficou 12 anos com a gente", lembra.
Para ele, se a candidata ideal para o trabalho estiver grávida, vale mais a pena ter paciência e esperar a licença-maternidade do que contratar outra com perfil que não se encaixe tão bem à vaga. "Costuma ser mais barato para a empresa, porque é caro substituir um candidato mal selecionado", diz.
Foi no meio de um processo seletivo, ocorrido em 2007, que a advogada Izilda Capeletto, 53, descobriu que estava grávida pela primeira vez. Foi uma surpresa, pois ela tinha 48 anos. "Fui para a entrevista feliz, mas pensando que desistiriam de mim."
A resposta de seu recrutador -então diretor de RH da AES Eletropaulo- foi a segunda surpresa. "Ele reagiu de maneira muito natural." Ela foi contratada poucos dias depois para reestruturar o código de ética da empresa.
Capeletto, que é formada pela USP (Universidade de São Paulo) e pós-graduada na Sorbonne, em Paris, afirma que planejamento é fundamental para os meses de licença-maternidade. "Estruturei a área, contratei pessoas e tracei, com antecedência, um plano de ação para que tudo funcionasse na minha ausência. E funcionou."
Irene Azevedo, professora de liderança da BBS Business School, diz que a contratação de grávidas no Brasil tende a se expandir, especialmente diante do maior número de mulheres no mercado de trabalho. "Espero que a história de Marissa seja inspiradora para outras pessoas."
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