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26/08/2012 - 06h05

Em SP, edifícios acima de 30 andares lançados nos últimos três anos são residenciais

DANIEL VASQUES
DE SÃO PAULO

"Sinto-me livre ao saber que vou morar num arranha-céu. É como se eu fosse a dona do mundo."

Assim a ex-professora Ana Lucia Levi Moraes, 50, descreve a sensação de ter comprado um apartamento em um edifício de 32 andares no Jardim Anália Franco (zona leste de São Paulo).

Lucas Lima/Folhapress
Operário trabalha na costrução do último andar do edifício Maison Victoria, com 31 andares, no Ibirapuera, em SP
Operário trabalha na costrução do último andar do edifício Maison Victoria, com 31 andares, no Ibirapuera, em SP

Feliz com a compra, ela só lamenta ter chegado quando as unidades nos andares mais altos já estavam vendidas -restou a opção de comprar no nono andar. "Mas daqui a três ou quatro anos pretendo comprar um apartamento em um dos últimos andares, pois sou apaixonada por altura."

Para isso, ela terá de ser rápida, pois imóveis desse tipo costumam ser arrematados primeiro. "Andares mais altos são sempre mais procurados e vendem rapidamente", afirma Marco Antonio Nelro, sócio da construtora Porte.

Para atrair clientes como Ana Lucia, construtoras e incorporadoras têm apostado cada vez mais em prédios residenciais com grande número de andares.

Levantamento da imobiliária Lopes, feito com exclusividade para a Folha, mostra que os 11 empreendimentos com maior número de andares lançados na cidade de São Paulo de setembro de 2009 a agosto de 2012 são residenciais.

Os campeões em altura continuam sendo edifícios comerciais, como o Mirante do Vale, mas o levantamento aponta uma tendência de "esticamento" entre os lançamentos residenciais

Maiores na altura, mas também no preço, boa parte desses arranha-céus são de alto padrão -não é difícil encontrar valores que ultrapassam R$ 1 milhão.

Além da vista e da sensação de ter um bem facilmente reconhecido a grandes distâncias, compradores indicam como vantagem o fato de o barulho da rua quase não ser ouvido do apartamento.

Lucas Lima/Folhapress
Ana Lucia Levi Moraes comprou um apartamento no 9º andar no Jardim Anália Franco, em SP
Ana Lucia Levi Moraes comprou um apartamento no 9º andar no Jardim Anália Franco, em SP

STATUS

Quem procura um apartamento em um prédio com mais de 30 andares e quer morar no topo precisa correr para garantir a compra, mesmo que as cifras sejam altas.

O empresário e morador de uma cobertura Jorge Alfieri, 39, comprou dois apartamentos de alto padrão assim que eles foram lançados: um no 38º andar do empreendimento Josephine Baker e outro no 32º do Camille Claudel, ambos no Jardim Anália Franco, na zona leste. "Sei que os mais altos são mais disputados."

Ele planeja se mudar para o Josephine Baker, com 128,9 metros de altura, e vender os demais. "Um dos prazeres que tenho é apontar o edifício e falar para alguém: 'Olha, é ali que eu moro'. Você se sente singular."

Ainda que os residenciais despertem esse tipo de desejo, são os comerciais que figuram no topo da lista dos mais altos (leia texto ao lado).

Para ter um imóvel em um andar mais alto, é preciso desembolsar mais, lembra Eduardo Della Manna, diretor de legislação urbana do Secovi-SP (sindicato de habitação).

Segundo ele, se um empreendimento é o único muito alto em uma região, o preço do seu último andar tende a variar ainda mais.

"Mesmo sendo mais caros, os apartamentos mais altos vendem mais e mais rápido, tanto pela vista quanto pelo status que representam", afirma Celso Amaral, diretor corporativo da Geoimovel, empresa de pesquisas imobiliárias.

"A variação de preço oscila entre 15% a 20% se comparamos os primeiros andares e os últimos", completa.

Marco Antonio Nelro, um dos sócios da construtora Porte, que comercializa empreendimentos desse tipo, rebate que, em geral, a variação é de 5% a 6% em um dos últimos andares em relação ao terceiro ou ao quinto.

No Josephine Baker, a diferença de preço entre um apartamento no quinto andar e outro no 27º chega a 8%. Para usufruir da vista de um ponto mais alto, é preciso desembolsar R$ 240 mil a mais.

RUÍDO

A vantagem de morar em um andar muito alto, que é o menor nível de ruído da vizinhança mais próxima, não significa silêncio total.

"O que acontece é que nos mais altos não se ouve muito barulho de crianças brincando ou de pessoas conversando, como ocorre mais perto do térreo. Mas existe um barulho difuso, originado do sistema viário. Fica aquele 'zum' característico," diz Della Manna, do Secovi.

"A cobertura é como uma aristocracia moderna e exclusiva", analisa Sérgio Wajman, professor de psicologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica). "É uma questão de status, pois coloca o morador em um nível em que ele se considera melhor que os outros, algo semelhante com o que ocorre em relação a carro ou a celular."

RUIM PARA A CIDADE

Lucila Lacreta, urbanista e diretora-executiva do movimento Defenda São Paulo, afirma que os efeitos de um empreendimento muito alto são todos negativos para a cidade. "Quem está em volta de um desses prédios tem a vista bloqueada por ele, e só o morador dali sai ganhando."

Ela ressalta ainda que esses edifícios criam uma grande sombra e geram tráfego.

Carolina Daffara/Editoria de Arte
 

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