Publicidade
13/07/2011 - 07h45

Apaixonados por plantas tentam garantir árvores após venda do imóvel

MICHAEL TORTORELLO
DO "NEW YORK TIMES"

Um pé de amora ou framboesa pode ser a alternativa da natureza à máquina de chicletes. A árvore fica ali, oferecendo alegria aos punhados. E um arbusto de amoras não exige colocar moedas; basta apanhar e comer.

Há alguns anos, um par de amoreiras oferecem cachos de frutos roxos diante de minha casa em Mineápolis (Minnesota, norte dos EUA). Imagine uma amora silvestre depois da fase de frutificação. Toda vez que meus filhos cruzam a entrada de carro até o caminho da porta, eles correm para os arbustos como passarinhos.

Parecia um absurdo deixá-las para trás quando minha namorada e eu nos mudamos para uma casa maior em St. Paul. Não as crianças; elas iriam conosco, por bem ou por mal. Então por que não levar as plantas também?

Mudar um jardim, afinal, causa dilemas que são agrícolas, emocionais e até jurídicos. Pensamos que os jardins são nossa propriedade, mas a custódia é condicional. Depois que uma planta está no chão, entra em terra incognita.

A jurisprudência sobre lilases é "rarefeita", segundo Stewart Sterk, 58, professor na escola de direito Benjamin N. Cardozo da Universidade Yeshiva em Nova York. Os jardineiros podem ser mesquinhos e podem ser resmungões. Mas diante dos custos do litígio "ninguém realmente move ações por essas coisas", diz Sterk.

Sterk também é jardineiro e lamenta a roseira "Pinata" que deixou para trás quando se mudou para uma nova casa em Mamaroneck, Nova York. As mudas não floresceram com a mesma profusão, ele disse. Parece possível que Sterk tenha sofrido uma injustiça no caso. Mas boa sorte para processar uma roseira...

O melhor rumo legal, segundo ele, seria estipular condições para uma planta amada no contrato de venda. Mas, ele admite, "você se sente bobo dizendo às pessoas 'Vou levar isso'. Talvez elas nem a tivessem notado. Mas agora que você falou, vão notar".

NEGOCIAÇÃO
Muitas vezes cabe ao corretor imobiliário resolver essas disputas. Kathleen Evangelista, 45, uma corretora da Prudential Douglas Elliman, no condado de Nassau, certa vez teve de negociar uma cláusula sobre uma figueira. O vendedor, um imigrante italiano, havia cultivado duas árvores de 1,80 metro com sementes que trouxera do país natal.

A região, que fica perto do limite de Queens (Nova York), não goza de um clima mediterrâneo. Por isso na comunidade ítalo-americana o inverno traz "todo um ritual de figueiras", disse Evangelista. "Você tem de cobri-las com um balde e envolvê-las em plástico durante a estação."

Quando entra em estado de dormência, a figueira não deve ser perturbada. "Nós íamos fechar negócio em algum momento em janeiro", disse Evangelista. "Então tivemos de incluir no contrato -- os advogados tiveram de discutir o assunto -- que o vendedor tinha o direito de voltar à propriedade e remover as figueiras no outono."

Deviam ser figos deliciosos, não? "Eram bons", disse Evangelista. "Não sei se eram diferentes dos de qualquer outra figueira. Mas o homem achava que sim."
Deve-se dizer que as árvores tinham sido plantadas havia mais de 20 anos. E um homem de 60 e muitos, como o vendedor de Evangelista, talvez não tenha mais 20 para recomeçar com novas sementes.

Nossos jardins são repositórios de emoções e tempo. E somente um desses recursos é renovável.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

 

Publicidade

 
Busca

Encontre um imóvel









pesquisa

Publicidade

 

Publicidade

 

Publicidade
Publicidade

Publicidade


Pixel tag