Concursos transformam boas ideias em empresas
BRUNO RICO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
FELIPE GUITERREZ
DE SÃO PAULO
Em oito minutos -cinco de exposição e três de sabatina-, o economista André Camargo Cruz convenceu uma banca formada por investidores, professores universitários e especialistas em empresas de que a ideia que teve com os colegas é promissora.
A equipe de Cruz, a Soul Chef, foi a vencedora do último Startup Weekend, um concurso que premia novas ideias de empreendimentos.
Promovidas por grupos de investidores atrás de iniciativas de bom potencial ou por grandes empresas -como a Telefônica e o Grupo RBS- que pretendem fazer aportes em negócios nascentes, as competições têm se tornado mais comuns no Brasil.
Luiza Sigulem/Folhapress |
André Cruz e Ricardo Santos, do Soul Chef, para interessados em culinária |
A avaliação pela qual passou o economista, batizada de "pitch", costuma ser a última etapa desses eventos.
Não é preciso ter uma empresa formalizada para participar dos concursos, basta apresentar uma boa ideia.
Bedy Young, organizadora do Startup Weekend, realizado no dia 20 de novembro, diz que investidores entram em contato com os idealizadores dos projetos mesmo que a proposta esteja muito crua.
"[Eles] colocam dinheiro no potencial e não no quanto [a proposta] está pronta."
No evento, foram apresentadas 11 ideias, entre as quais sites de busca de trabalhadores, de organização de peladas de futebol e entrega de refeições por táxis.
A equipe do Soul Chef, formada por Cruz, Renato Barros e Ricardo Silva, planejou uma plataforma para aproximar pessoas que têm habilidade na cozinha de clientes e promover encontros remunerados entre eles.
O site garantiria a segurança do serviço e traria ranking de cozinheiros. A renda da equipe viria de uma taxa a mais sobre as transações.
EM DESENVOLVIMENTO
Caio César Saraiva, 53, apresentou sua ideia e conseguiu ir adiante: foi um dos 30 finalistas do WayraWeek, concurso promovido pela Telefônica. Sua proposta é otimizar áreas para estacionamento de veículos e eliminar a busca por vagas.
Saraiva, que é engenheiro e trabalha como professor universitário, já teve três planos de negócios. Mas eles nunca se concretizaram.
"Se, na época dos meus primeiros projetos [nas décadas de 1980 e 1990], existissem esses prêmios, algum deles teria saído do papel", diz.
DESTINO
Depois dos primeiros "pitchs" no Brasil, Vinicius Roveda, 29, saiu ainda mais determinado: daria vida à ideia que apresentou; de uma empresa on-line de serviço de fluxo de caixa e de emissão de notas fiscais.
O empreendedor, que saiu vencedor em uma disputa realizada em maio deste ano, está agora no Vale do Silício, nos EUA, preparando-se para uma nova rodada para divulgar sua proposta -e garantir investidores-, que será realizada em fevereiro.
Quanto mais intensivo o treino para o "dia D", maiores são as chances de emplacar seu projeto, batizado de Conta Azul, explica Roveda.
Nem todos os empreendedores que participam desses programas, contudo, tornam-se donos de empresas.
Entre as equipes vencedoras das edições de 2008, 2009 e 2010 do Desafio Sebrae -jogo de empresas entre estudantes universitários no Brasil-, por exemplo, não existe um integrante que tenha montado um negócio.
Mauricio Guedes, coordenador de incubadora de negócios da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e um dos desenvolvedores do jogo organizado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas), diz ser improvável que todos os participantes se tornem empreendedores.
Mas ele acrescenta: "Quando o aluno inscreve-se na competição, já tem algum interesse por esse tema".
MUNDO CORPORATIVO
O engenheiro ambiental Rafael Nars, 25, um dos integrantes do time vencedor da competição de 2008, nutre o desejo de abrir um empreendimento com os amigos.
A expectativa de virar empresário permanece "até hoje", segundo ele. "Só não achamos a ideia certa e o momento adequado para conversar e investir tempo nisso", explica o engenheiro, que recentemente deixou de ser funcionário de uma empresa em São Paulo.
Entre os cinco integrantes do grupo vencedor da etapa nacional do Desafio Sebrae deste ano, o Run to Win ("Correr para Ganhar"), a maioria está disposta a seguir carreira em grandes companhias.
Os ganhadores são alunos de ciências da tecnologia da Unifersa (Universidade Federal Rural do Semi-Árido), no Rio Grande do Norte.
Bruno Dantas Laurindo Oliveira, 22, e outros três colegas querem partir para um emprego na iniciativa privada. O jovem diz ter como meta trabalhar na Petrobras.
"[O Desafio] ajuda os profissionais a ter sucesso na carreira", diz Isaías Lima, 23.
A ambição de Victor de Andrade Dantas, 18, contrasta com a dos colegas de time: "Meu sonho é ter uma empresa", afirma.
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