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04/03/2012 - 07h38

Alta do aluguel faz comércio transformar-se em delivery

PATRÍCIA BASILIO
DE SÃO PAULO

Do hortifrúti aberto em 2008 pelo empresário Carlos Ribeiro, 30, sobraram apenas fotos. Localizada em um imóvel residencial da família em Guarulhos, a quitanda não deu lucro e foi fechada três meses depois de ser aberta.

Diogo Shiraiwa/Editoria de Arte/Folhapress
Entrega rápida
Entrega rápida

"Não achava um ponto comercial melhor por menos de R$ 3.500 ao mês, valor inviável para uma empresa em início de atividade", recorda.

Sem condição de fazer novo investimento no empreendimento, Ribeiro transformou, em 2009, o antigo hortifrúti em um serviço de delivery de frutas para empresas.

Alugou um escritório por R$ 1.700 e, para não gastar com armazenamento dos produtos, o proprietário da Snack Frutas faz compras diariamente na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo).

Silvia Zamboni - 17.fev.12/Folhapress
Carlos Ribeiro e Leonardo Stecanella, sócios da Snack Frutas
Carlos Ribeiro e Leonardo Stecanella, sócios da Snack Frutas

"Oferecendo um bom serviço de entrega, não importa onde a empresa esteja fisicamente", frisa Ribeiro.

Abandonar o modelo físico para investir apenas em delivery tornou-se alternativa atrativa para pequenas empresas diante do aumento do aluguel de imóveis comerciais nas grandes cidades.

De 2009 a 2011, o valor do metro quadrado de escritório de alto padrão na cidade de São Paulo foi de R$ 73 para R$ 90 (alta de 23%), mostra estudo da consultoria imobiliária Jones Lang LaSalle. No Rio, pulou de R$ 87 para R$ 124 no mesmo período.

"O delivery e o comércio virtual são saídas para fugir do alto aluguel, mas não são ideais para todos os tipos de empresa", pondera Marcelo Aidar, professor da escola de administração da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Artigos de luxo, como bolsas, roupas de grife e joias, geralmente são adquiridos após comparação e prova dos consumidores. Sistema delivery, nesse caso, pode ser até perigoso para o entregador e para o empresário, devido ao alto valor dos produtos, de acordo com Aidar.

PRECAUÇÃO

Aderir a um modelo de negócio voltado exclusivamente ao delivery não se resume à contração de um motorista e à aquisição de um veículo.

O processo deve ser ancorado por planejamento financeiro que cubra um fluxo de caixa menor no caso de contratempos, como atraso na entrega devido ao trânsito e inadimplência de clientes.

Como a venda está atrelada a um meio de transporte, é preciso considerar a impossibilidade de atender a vários clientes de uma vez, como em lojas físicas, acrescenta Marcel Solimeo, economista-chefe da ACSP (Associação Comercial de São Paulo). "Às vezes, é preciso repassar parte dos custos ao consumidor."

Marisa Cauduro/Folhapress
Rafael Fontes e Jefferson D'Angelo, sócios do Boteco Delivery
Rafael Fontes e Jefferson D'Angelo, do Boteco Delivery

Cobrar taxa de entrega de R$ 5 foi a tática de Jefferson D'Angelo, 25, sócio do serviço de entrega de bebidas Boteco Delivery, para contornar cancelamentos de pedidos em cima de hora e vendas perdidas devido ao trânsito.

"No Natal, não consegui entregar para a região da avenida Paulista porque estava tudo parado. Perdi dinheiro."

O Boteco Delivery -cujo tíquete médio é de R$ 45- foi aberto em 2011 e está localizado no porão da casa dos pais do sócio de D'Angelo, Rafael Fontes, 21, que também são donos dos carros utilizados na entrega.

Para prevenir-se de calotes e furto de equipamentos, a cabeleireira Matilde Borges, 54, dona de salão que leva seu nome, só atende a consumidores que conhece ou que são indicados por clientes.

"Uma coisa é alguém vir ao meu salão e não pagar; outra é eu dirigir até a casa da pessoa, gastar gasolina e fazer o serviço para não ganhar nada. O prejuízo é maior", diz.

Com baixo movimento no salão de segunda a quinta, Borges decidiu abrir o ponto só às sextas-feiras e aos sábados. Nos demais dias, faz penteados e cortes de cabelo na casa das pessoas. "Até o meio do ano, vou fechar o salão para não pagar aluguel."

O segmento de serviços é o mais favorável ao modelo delivery, diz Paulo Feldmann, presidente do Conselho da Pequena Empresa da Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo).

O principal motivo "é o setor limitar-se à pessoa que presta o serviço, não a um produto que deve ser exibido ao cliente."

 

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