Inflação preocupa varejistas

Os efeitos da inflação têm sido sentidos pelos pequenos e médios empresários do país. O índice de preços mais usado, o IPCA, chegou a 7,23% nos últimos 12 meses, a maior taxa registrada desde junho de 2005.

Paulo Roberto Victorino, dono de uma papelaria com dez empregados, começa a fechar as compras para o começo do ano que vem. "[Os preços] têm aumentado em torno de 5% a 6%, mas isso depende do segmento --se é mochila, caderno, escrita. Cada um deles tem um reajuste diferente", diz ele.

O revendedor de bebidas Franchesco Paolo Lo Schiavo, que compra muita mercadoria importada, ainda não viu seus custos aumentarem, mas diz estar preocupado com os últimos movimentos do dólar.

"Agora os revendedores não sentem nada, porque já estão com contratos fechados, mas se [o dólar] continuar nesse movimento, vai afetar o Natal, quando a gente espera as grandes compras acontecerem."

MARGEM DE LUCRO
A Tendências Consultoria prevê que a inflação deste ano será de 6,6%, e de 6% em 2012.

A meta de inflação deste ano é de 4,5%, com uma banda de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo.

"Acho que o resultado é grave, não dá para relativizar", diz Alessandra Ribeiro, economista da consultoria.

Segundo ela, não há muito o que os pequenos e médios empresários possam fazer --a não ser repassar ao máximo os aumentos de custo.

"Ainda há muita demanda, a evidência mostra que eles estão conseguindo fazer esse repasse. Para uma pequena e média empresa, é a mesma estratégia, repassar. Se não conseguir, vai ter a margem de lucro afetada."

PASSADO
Victorino, o dono da papelaria, já era comerciante na época em que a inflação brasileira era galopante, no fim dos anos 80 e no começo dos 90.

Ele relata que comprava um produto, mas que, dois meses depois, seu preço dobrava. Ele aumentava o valor na papelaria, mas, quando ia repor, não conseguia cobrir o preço de custo. "O que eu comprava por R$ 10 e havia vendido por R$ 20 custava R$ 25 para a reposição", lembra.