Tipo de carro revela fase da vida do motorista

O executivo de RH Perípedes Gondim, 40, resolveu trocar de categoria de carro após o nascimento dos filhos.

"Pulei de um sedã para uma minivan, para dar mais conforto às crianças. Agora que os meninos estão maiores, optarei por um jipinho para nos divertirmos em expedições 'off-road'", planeja.

As pessoas passam por diferentes fases ao longo da vida, e seus automóveis acompanham as mudanças.

"O carro costuma exprimir o momento financeiro e principalmente o emocional que seu dono atravessa", afirma Pedro Calabrez, professor de neurociência aplicada ao consumo da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

"Tanto que relacionamos as fases da vida ao carro que possuíamos em cada época."

Fatos marcantes, como uma promoção no trabalho ou uma separação conjugal, também instigam a partir para um outro estilo de veículo.

	Editoria de Arte / Folhapress

Um dos motivos que levam alguém a trocar repentinamente de carro é o fim de um relacionamento amoroso.

"É comum o indivíduo, ao se divorciar, procurar um modelo mais chamativo para tentar dar um 'up' na vida", conta Marcelo Fantini, supervisor de pesquisa de mercado da Fiat, que colheu dados sobre o assunto.

Motivada geralmente pela carência de atenção, a tática também é aplicada por mulheres, assegura a montadora, sem revelar estatísticas.

"Teve uma mãe que decidiu vender seu sedã porque achava que esse tipo de veículo deixava-a mais velha", conta Fantini.

Para o vendedor Carlo Enrico, 27, o automóvel influencia na hora da paquera. Dono de um Chevrolet Camaro laranja, o solteiro diz que as meninas ficam "hipnotizadas" pelo esportivo.

"Mas eu não vou com ele para qualquer balada. Precisa ter estacionamento seguro. Na rua, eu não paro", diz.

Eduardo Anizell/Folhapress

Luiz Callage, 68, comprou o conversível Mercedes SLK

Se o fator financeiro limita a escolha pelo carro, é o lado emocional do consumidor que decide a compra.

Para agradar um grande número de perfis, as montadoras buscam ofertar versões de um mesmo modelo.

Veja o caso da VW Saveiro (a partir de R$ 32 mil). Além de uma configuração de carga para o trabalho, a picape ainda tem mais duas: uma esportiva e uma "off-road". Esta agrada quem procura um "automóvel de passeio com caçamba" para o lazer.

Já a Ford oferta veículos completamente distintos na mesma faixa de preço, também cercando o cliente em etapas distintas da vida.

Por R$ 55 mil, por exemplo, pode-se optar pelo jipinho EcoSport, pelo sedã compacto New Fiesta, pelo hatch médio Focus ou pela picape Ranger Sport (cabine simples).

"A diversificação é uma tendência", diz Pedro Calabrez, especialista em neurociência aplicada ao consumo.

Dessa forma, um pai "radical" poderia comprar uma minivan -por pressão da família-, só que numa versão aventureira.

FONTE DA JUVENTUDE

Apaixonado por esportivos, o professor Luiz Callage, 68, conseguiu realizar o seu sonho há cinco anos: ter uma Mercedes SLK conversível (218 cv), que usa para saborear o vento nos feriados.

"Hoje meus filhos estão casados. Então posso ter um automóvel para curtir só com minha esposa", conta.

Para Callage, o modelo alemão de dois lugares -e com teto rígido que pode ser recolhido eletricamente- o faz sentir-se especial. "Nele, parece que rejuvenesço uns 10 anos. Além do mais, chama tanta a atenção nas ruas que o motorista se sente com o ego inflado", diz o professor, que usa durante a semana um Volkswagen Jetta 2.5.

Mas o conceito de esportividade está mudando, garante a Fiat, que desde outubro comercializa o Uno Sporting 1.4, de tímidos 88 cv.

Segundo a marca, como cada vez menos as pessoas têm chance de acelerar -por conta de engarrafamentos, radares e normas de trânsito- sai mais barato investir só no visual dos esportivos, não mais em motores possantes, geralmente poluidores.